sexta-feira, 3 de abril de 2015

Entrevista a Mário Felgueiras (Konyaspor)


Ups, mete gelo





1. O que melhor e pior recorda durante os anos de formação no Sporting?

Recordo praticamente tudo, como se tivesse sido ontem. Foram anos fantásticos, nos quais evolui acima de tudo como homem. O facto de ter sido campeão de juniores no ultimo ano, foi o culminar de três anos fantásticos. Obviamente que não poderei esquecer os meus primeiros treinos com a equipa principal, em que privei com grandes jogadores.

2. Qual foi a sensação de ganhar o Campeonato da Europa Sub-17 em 2003? Ainda espera um dia chegar à seleção A? 

Foi uma sensação única e que até hoje não experienciei igual. Também ajudou ter sido realizado em Portugal, o que tornou tudo mais caseiro e mais fervoroso. Tinha família e amigos presentes sempre no estádio e tudo isso nos ajudou. Tive também a felicidade de ter na equipa jogadores, que mais tarde vieram a provar a enorme qualidade e que ainda hoje continuam nos grandes palcos. A seleção principal, sinceramente, não é um assunto que me perturbe ou que viva obcecado. Já sonhei muito com isso, no entanto, a meu ver já houve momentos em que poderia ter sido chamado e não fui, como tal baseio-me neste momento em trabalhar bem nos clubes em que passo e deixar sempre a melhor imagem possível e o que tiver de ser, será. Por vezes temos de ceder para conseguirmos bem estar e trabalharmos com prazer.

3. Na época 2009/2010 sofreu uma pesadíssima derrota, 8-1 foi o resultado entre Benfica e o Vitória de Setúbal, seu clube na altura. Como é que um guarda-redes vive os dias seguintes a uma pesada derrota como essa?

Bem, recordo-me que no final do jogo, na chegada ao estádio do Bonfim, o mister Azenha deu-nos alguns dias de folga para podermos repousar a cabeça e pensarmos o que fizemos de errado. Mal cheguei a casa, peguei no carro e dirigi-me para o Porto ao encontro da minha namorada na altura, e hoje minha esposa. Foram dois dias em que não saí de casa com receio do que as pessoas poderiam dizer, mas com a idade vamos aprendendo e sabemos como lidar com estas situações. Tudo passa, menos a saúde. Por isso, há que olhar em frente e melhores dias virão.

4. Muitos o consideram um especialista na defesa de penaltis, qual o seu segredo?

Não acredito que exista um segredo. É talvez uma questão de crença e de trabalho. Penso que talvez seja o ponto alto de um guarda redes, ou melhor dizendo, o momento no jogo em que se pode comparar a um golo de um avançado. Podemos analisar inclusive os lados para os quais os nosso adversários podem bater o penalty, mas o factor sorte também de estar do nosso lado. Depois, é aproveitar o momento.

5. Teve a oportunidade de treinar ao lado de guarda-redes como o Nelson, Ricardo, Quim, Eduardo, Artur Moraes, Tiago, entre outros. O quanto foi importante para si ter guarda-redes mais experientes como colegas?

Desde que comecei a jogar futebol, aprendi com todos os meus colegas, o que devia ou não fazer. Tento sempre aprender em tudo e adquirir experiências que poderão ser-me úteis no futuro. Todos os guarda-redes com quem trabalhei, ensinaram-me algo, direta ou indiretamente. 

6. Qual foi o avançado que mais lhe deu "dores de cabeça"?

Falcão. Foi um jogador que me pareceu acima de tudo muito humilde e trabalhador para o estatuto que já adquiria. Depois como jogador e capacidades técnicas, um jogador fantástico e com espírito de equipa. Sempre disponível para ajudar a equipa e com arte de finalizar.

7. O Cluj tem ultrapassado uma grave crise financeira. Como viveu essa situação?

Foram dois anos e meios que nunca esquecerei. Infelizmente nestes últimos seis meses, o clube caiu numa situação muito delicada e sem solução à vista. Como tal, chegou também o momento de deixar o clube apesar de toda a tristeza e mágoa que me acompanhou nesta despedida. Reconheço que me custa muito perceber como chegou o CFR Cluj a esta situação mas a verdade é que são situações em que os jogadores pouco ou nada podem fazer.

8. Para si qual é o melhor guarda-redes de todos os tempos?

Desde pequeno cresci a ver o Oliver Kahn e o crescimento do Buffon. Estilos diferentes mas penso que foram aqueles que sempre idolatrei. Não posso também deixar de referenciar, o grande Vítor Baía, com um estilo e aliado com qualidades que até hoje não encontrei nenhum guarda redes. 

9. Acha que Neuer merecia ganhar a Bola de Ouro? 

Penso que Neuer foi de longe o melhor guarda-redes e continuará a ser nos próximos anos mas por mais que me custe dize-lo, para um guarda redes ganhar a Bola de ouro será muito complicado. O “clímax” do futebol é o golo, por isso os jogadores de campo estarão sempre mais próximos de conseguir ganhar a Bola de ouro.

10. Acha que depois deste Mundial, onde os guarda-redes foram a principal figura, finalmente começam a ser vistos com a devida importância? 

Hoje em dia, o futebol é praticamente bem trabalhado em todas as partes do mundo e isso reflete se nos guarda-redes. Temos vindo a inovar nos treinos específicos e nas condições de treino. Fico contente por isso porque afinal fazemos parte da equipa e sem nós ninguém ganharia um jogo ;) De certeza que num futuro próximo as técnicas de guarda redes serão melhoradas e os guarda redes automaticamente tornar-se-ão mais eficazes e eficientes. 

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