sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Diogo Melo (União Penacova)


Ups, mete gelo



  — com Diogo Melo.

Ficha do jogador: https://www.facebook.com/upsmetegelo/videos/425819354293764/


1. A sua aventura no futebol começou em Vila Real ao serviço do Abambres, pouco mais tarde foi para Diogo Cão e depois assinou pelo Sporting. Como surgiu esta oportunidade de jogar nos leões?

Tudo começou com um convite do SL Benfica, quando jogava no Abambres, para ir fazer captações no estádio sintético ao lado do estádio da Luz. Após esse treino, fui abordado por um olheiro do Sporting para ir treinar a Alcochete na semana a seguir. O treino correu me de feição e acabei por assinar nesse mesmo dia um papel que me vinculava ao Sporting para a 1ª época de iniciado, sendo que como era de longe e ainda demasiado novo para integrar a Academia apenas fazia torneios por eles, e continuava a jogar na Diogo Cão perto da família. Lembro-me de na viagem para casa nem conseguir dormir com a ansiedade poder voltar a Alcochete.

2. O Diogo tinha apenas 13 anos quando se mudou para Lisboa. Foi muito difícil deixar para trás a família e os amigos de infância?

O primeiro ano no Sporting de facto foram tempos difíceis, não só porque saí de uma cidade pequena onde todos se conhecem, como a diferença de realidades era completamente diferente. Lembro-me muitas vezes de falar com o meu colega de quarto sobre a saudade que nós tínhamos dos pais e dos nossos amigos, e de chorarmos juntos. Aliás nós eramos como irmãos, um suporte um para o outro. Também tive a sorte de ter uns país fantásticos e um irmão fantástico que não falharam um fim de semana, e faziam 800 km (viagem de ida e volta) para me apoiar. Não é fácil sair de casa tão cedo, ainda por cima num mundo como o do futebol, onde a competitividade é tudo, e onde há um desgaste psicológico enorme. Se nós fazíamos um mau jogo, no jogo a seguir já estaria outro jogador com muita qualidade para jogar. Claro que, à parte desta pressão, havia momentos muito bons também. Lembro-me num jantar de natal com todos os jogadores do Sporting, e ficar ao lado do Derlei a falar de situações que lhe tinham acontecido na sua carreira. Foi um momento muito engraçado. E jogar e viver com jogadores como Bruma, Iuri, Tobias e o Mané é sempre bom de recordar. Noutro dia quando estávamos em viagem para os Açores para a Taça de Portugal, eles estavam a ir para estágio de seleção, e foi um momento que me marcou porque já não os via há muito tempo, e foi bom para falar um pouco. Fico de facto muito feliz por eles estarem a conseguir tirar frutos de todo o trabalho e sacrifício que tiveram.

3. Mais tarde, depois de passar pelo SC Braga, Boavista e até Académica, o Diogo aventurou-se por Inglaterra: West Bromwich, West Ham e Bournemouth, foram os clubes onde treinou em Inglaterra. Pode descrever esta experiência inglesa e revelar o que se passou para não continuar no Reino Unido? 

O primeiro convite surge quando estava no Boavista. Após uma exibição contra o Rio Ave, recebi um convite do West Bromwich Albion para me deslocar a Birmingham uma semana. Fui sozinho na altura, estava a nevar imenso, como nunca tinha visto. Lembro-me até de pensar no primeiro dia que não ia treinar por causa da neve, mas para surpresa minha eles tinham um campo sintético enorme coberto, Inglaterra é outro nível! Lembro-me nessa mesma semana sentar-me ao lado de jogadores como o Lukaku ao almoço. Em Inglaterra não existe afastamento praticamente nenhum entre a formação e o futebol sénior, e por isso mesmo a passagem para o futebol profissional é mais fácil lá. A semana correu me muito bem também e na altura o meu empresário falou-me do interesse do West Ham e que estes poderiam oferecer condições melhores. Acabei por rejeitar ficar mais uma semana no West Brom e desloquei-me imediatamente a Londres. O West Ham tinha umas condições excecionais, jogar em Inglaterra é o sonho de qualquer jogador. Após 1 semana em Londres, ficou decidido que voltaria no ano a seguir e assinava. Lembro-me de ligar a um grande amigo de madrugada a contar-lhe a novidade, foi um momento muito emotivo. Quando cheguei a Portugal, tardava em saber datas e conclusões do processo. Infelizmente vim a saber no futuro que não voltei a Londres, por problemas de comissões entre o Clube e agente, sendo que também rompi o contrato que me ligava a esse agente. No meu segundo ano de júnior o Bournemouth contactou-me, sendo que eu fui referenciado pelo diretor de futebol do West Ham e desloquei-me na pré-época para lá, já para integrar a equipa sénior. Foi uma boa experiência, e cheguei a realizar alguns jogos amigáveis por eles. Os custos de direitos de formação eram altíssimos (rondavam os 355.000 euros) e foi um dos fatores que proporcionaram não assinar o contrato com as condições que queria.

4. Depois do excelente trajeto de formação que realizou, porquê é que escolheu o Pampilhosa, clube que milita a CNS, para iniciar a sua carreira de sénior?

De facto não escolhi. Na altura quando cheguei de Inglaterra, os planteis já estavam todos fechados, e como não houve acordo com o clube inglês eu sabia que não podia deixar os estudos. Como me tinha candidatado para Economia em Coimbra, surgiu a possibilidade de ir treinar ao Pampilhosa. Após uma primeira semana difícil de treinos, acabei por fazer um jogo amigável e marcar 2 golos, assinando assim pelo Pampilhosa.

5. No Pampilhosa foi treinado pelo técnico Fernando Niza, o segundo treinador mais velho no ativo em Portugal. Como descreve o mister Niza e que ensinamentos recebeu deste treinador?

Mister? (risos) Se ele ouvisse isto já o estava a corrigir (risos). Ele próprio diz que é o mestre do futebol. É um treinador que joga muito com o psicológico dos jogadores, e tem que se ter um psicológico muito forte para aguentar certas situações. Lembro-me de alguns episódios muito engraçados dele. Uma altura íamos jogar contra o Mortágua, e ele gravou uma palestra antes do jogo, da equipa toda a cantar que o Pampilhosa ia ganhar, mesmo antes do jogo começar. A verdade é que nós ganhamos e o vídeo foi viral. No geral foi uma época para reforçar o meu fator psicológico, sendo que o estilo de jogo do Pampilhosa não se adequava muito às minhas características e o próprio mestre sabia disso.

6. Depois da época ao serviço do Pampilhosa mudou-se para o União Penacova. O que o cativou a mudar para uma equipa da divisão inferior à CNS?  

Surgiram algumas propostas do campeonato nacional de seniores. Certamente que o fator diferenciador, foi a conversa que tive com o meu colega Jocy e com o treinador antes da minha escolha. O Mister Cláudio, é um treinador jovem que sabe o que quer, e a verdade é que tudo que ele falou comigo nesse dia está a acontecer. Nós não trabalhamos como uma equipa de distrital, prova disso foi o que fizemos na Taça de Portugal e a personalidade que temos dentro de campo. E tenho que dizer que fiquei muito espantado com as pessoas que seguem este clube. O nosso campo está sempre cheio, e as pessoas de Penacova sentem realmente o clube, isso é algo que não se vê em todo o lado. Por muito que estejas numa divisão inferior sentes que tens que dar o teu contributo por aquelas pessoas todas que definitivamente merecem e fazem tudo para os jogadores se sentirem bem. Além disto o grupo de trabalho é fantástico e com muita qualidade, e o futebol praticado e filosofias do treinador, vão completamente ao encontro do meu futebol, prova disso é o bom início de época que estou a ter, e aquilo que tenho aprendido neste clube.

7. O Diogo como referimos anteriormente já representou grandes clubes e para além disso já foi referenciado pelo Udinese. O que acha que falta para voltar aos palcos principais do futebol?

Sinceramente não penso muito nisso. Neste momento o meu foco é desfrutar do futebol, algo que tinha perdido um pouco por alguns acontecimentos que não conseguia controlar. No futebol temos que pensar dia a dia, e neste momento é isso que eu faço. Estou feliz e sinto o meu trabalho a ser reconhecido, isso é o mais importante. O que tiver que acontecer, acontecerá certamente.

8. No passado dia 18 de Outubro, o “Gavinhos” recebeu o Rio Ave em jogo a contar para a Taça de Portugal. O Diogo foi um dos  jogadores mais influentes da equipa da casa, como se sentiu ao jogar contra uma das melhores equipas de Portugal?

Foi um momento muito especial. Jogar com um campo cheio, e no meio do jogo ouvires o teu nome a ser entoado é qualquer coisa de especial. Para mim o mais importante nem foi o destaque individual que me deram após o jogo, mas sim o gosto que me deu jogar aquele jogo. Foi bom também ver colegas antigos, como é o caso do Nélson Monte e o Rafa, que acabou por não jogar.

9. Por norma, aqueles que despontam cedo no futebol, acabam por abdicar dos estudos. Como está a ser possível conciliar uma Licenciatura com o Futebol?

Desde o primeiro momento que sai de casa para me dedicar ao futebol, que os meus pais me disseram que a prioridade seria ter boas notas, e que no dia que não as tivesse sairia do futebol. E hoje agradeço imenso terem-me incutido essa postura e atitude, pois a faculdade é algo que eu necessitava. Desde os meus 13 anos, que eu não conseguia ter um tempo para mim, ou não conseguia reunir um grupo de amigos por mais de 2 anos porque estava constantemente a mudar de cidade, ou porque o futebol me privava de imensas coisas. Quando falo com os meus colegas que viveram comigo na academia e que não seguiram o futebol, eles próprios dizem o mesmo. É muito bom saberes que te podes divertir e tens tempo para ti, e para estares com os amigos. Além disso a faculdade trouxe-me um núcleo de amigos muito unidos, e fez me pensar de maneira diferente. E como é obvio sendo estudante da Universidade Coimbra, vejo Coimbra como uma cidade muito especial para mim e que certamente irei ter muitas saudades desta cidade e destes tempos.

10. Para terminar gostaria de lhe perguntar qual o clube e o jogador que o mais marcou na sua carreira e quais as suas expectativas para o futuro.  

O clube que me marcou mais na minha carreira foi o SC Braga. Desde o primeiro momento que lá estive até ao último foi especial. Em primeiro adorava viver em Braga, uma das cidades mais jovens e bonitas de Portugal, e depois em Braga sentia-me completamente em casa. Além de ter tido treinadores que me marcaram imenso, como foi o caso do Mister José Carvalho Araújo e o Mister Ricardo Cerqueira, também consegui retirar grandes amizades de lá. Na altura que fui para o SC Braga, o clube estava a crescer imenso! Quanto ao jogador que mais me marcou, foi sem dúvida alguma o Iuri Medeiros. O Iuri tinha e tem um talento enorme, sempre pensei e tenho ainda a esperança que ele venha a vincar o estatuto de craque, pois ele sem duvida é. As expectativas para o meu futuro, passa por pensar num dia de cada vez e ver o que o futuro me reserva.

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